TIERRAS DEL SUD _ no @festivaldealmada

Publicado en Antro Positivo por Ruy Filho

«Trata-se de uma trilogia. Isso é importante ser dito, desde já, pois é a sucessão dos espetáculos que confirma a importância desse projeto imenso. Grandioso não apenas pelo oferecido na dramaturgia, também pelo impacto de suas revelações. Em Extraños mares arden (2014), os alicerces das artes visuais contemporâneas e o colecionismo pelas megacorporações leva à investigação profunda sobre a mineração no deserto do Atacama, no Chile. No trabalho mais recente, Teatro Amazonas (2020), o teatro de ópera e o estádio de futebol em Manaus dão as dimensões sobre a industrialização nas áreas indígenas. Em Almada, assiste-se a segunda parte: Tierras del Sud. Neste, a investigação volta-se ao como as terras Mapuche, em Patagônia, Argentina, foram saqueadas e hoje são propriedades de ingleses e, em especial, dos irmãos Benetton, que usaram da moda para fabricar uma imagem própria inversa ao mundo. São obras que elevam a perspectiva do entendido por teatro documental a outro patamar: narrativas denunciativas com pesquisas impressionantes e coragem inigualável de seus artistas. A imensa quantidade de informações é organizada e experimentada no espaço cênico trabalhdo como dispositivo de ilustração. Os volumes, arquiteturas, ocupações, cores e seus corpos em cena não se limitam a traduzir. Materializam aquilo que, na forma de dados, pode parecer menor em importância ou demasiadamente abstrato. Trata-se, assim, de outra qualidade de narrativa documental. Não apenas o trazer à cena depoimentos ou encenar as falas de entrevistados. É preciso conviver no tempo com o apresentado, pois o espetáculo age especialmente a partir de sua intervenção ao como as narrativas são erguidas nos planos da percepção e do cognitivo. Tierras del Sud repete o impacto dos outros dois trabalhos. É impossível deixarmos o teatro sem nos perguntarmos como nos tornamos tão cegos quando tudo é tão explícito.»
__ [ Ruy Filho | Antro Positivo ]